Como ator, músico, produtor, diretor, artista visual e dono da
marca de sua banda, Leto é um homem renascentista consumado. Com sua aparência jovem desafiando seus 41
anos, ele também é uma contradição viva em relação ao senso comum de que a
carreira de ator tem sua longevidade limitada.
Dallas Buyers Club representa grandes desafios a Leto. Primeiro,
ele não tem um papel importante em um filme há 5 anos. Segundo, ele teve que
usar salto alto e meias arrastão para fazer a personagem transexual.
Passado em 1986, Dallas Buyers Club conta a história do
eletricista texano Rob Woodroof ( Mathew McConugghey) e sua luta contra o
paradigma médico e as corporações farmacêuticas após ser dignosticado como
HIV-positivo. Woodroof passa a buscar tratamentos alternativos, compra remédios
fora dos EUA e cria uma alternativa promissora para colegas que também sofrem
com o HIV. Com apoio dos outros, ele desenvolve um plano para permitir que eles
tenham acesso as mesmas drogas que ele.
Apesar de se passar em 1986, Dallas Buyers Club não é datado, e
ressalta diversas questões difíceis entre a sociedade e aqueles que sofrem com
Aids ainda hoje. Problemas como o custo dos remédios regulamentados pelo
governo, serviços de saúde com
infraestrutura precária, prejuízos sociais e a simples sobrevivência permanecem
sem solução.
Olhando
pra trás, os primeiros casos do que viria a ser conhecido como Aids foram
descritos nos EUA em 1981. Desde então, estima-se que mais de 1.8 milhão de
pessoas foram infectadas com o HIV nos EUA, incluindo as mais de 650 mil que já
morreram. Hoje, mais de 1.1 milhão de pessoas nos EUA vivem com o HIV, e
ocorrem 56 mil infecções novas a cada ano.
“Quando eu li o script de Dallas Buyers Club pela primeira vez,
me apaixonei pela personagem e me apaixonei pela história”, diz Leto. “Também
fiquei cheio de admiração pelas pessoas que estavam determinadas a fazer algo
especial.”
O elemento emocional e humanista do filme se estende através da
interação entre os dois personagens, o Ron Woodroof de Matthew MaConaughey e a
Rayon de Leto. “Apesar de se vestir de maneira superficial, Rayon tem
qualidades que desafiam o estereótipo. Há cenas tocantes que revelam uma
ligação verdadeira entre os personagens. Ela vê nele uma figura paterna, um
defensor, um companheiro, e um igual. O esforço e a luta contra a Aids é uma
batalha de ambos.”
Leto diz que também foi afetado de maneira pessoal, e que o
projeto desenterrou várias feridas emocionais. “Quando eu era criança e
começamos a ouvir falar sobre pessoas ficando doentes e morrendo dessa doença,
foi um acontecimento devastador. Mais tarde, morei em Nova Iorque, Washington e
Filadélfia, e essas cidades foram muito afetadas. A doença era praticamente uma
sentença de morte naquela época.”
Jared revela que experimentou o ódio pela doença de perto, na
época em que o filme se passa. “Em 1991, quando me mudei para Los Angeles,
aluguei um quarto em uma casa, e uma das outras pessoas que moravam lá era um
homem morrendo de Aids. Então eu tenho um olhar muito próximo e pessoal sobre
esse dilema e esse momento da vida.”
Palavras solenes de um homem conhecido por sua excentricidade e
sua pré-consciência. Ainda assim, a estética brincalhona dos saltos e dos
trajes trans de Rayon é um elemento divertido, colocado como referência as
clássicas personagens drag. Leto diz que focou na angústia de um ser humano em
vez de isolar apenas um aspecto da personagem.
Ele acrescenta, “Não usei nenhum outro filme como referência. Eu
queria ficar longe do estereótipo da drag queen exibicionista, ou de alguém que
é muito exagerada, barulhenta e sem limites. Na época em que estamos, Rayon
seria considerada uma pessoa que quer viver a vida como mulher, não apenas
alguém que quer se vestir como mulher.”
Leto diz que a parte mais difícil do papel foram os desafios
emocionais. “Foi um papel muito angustiante e difícil – uma oportunidade única
na vida. Me sinto muito grato por ter tido a chance de me apaixonar por esta
personagem e por fazer parte deste projeto incrível, com um grupo de pessoas
determinado a fazer algo especial, a criar algo verdadeiro e correto, a contar
uma história que precisava ser contada.”
Apesar da temática polêmica, Leto está confiante sobre o sucesso
do filme. “Esse é um daqueles momentos em que eu espero apoio das pessoas e da
mídia. Exige um entendimento superior. Os roteiristas fizeram um trabalho
maravilhoso, criando um senso de empatia realista. O público não vai ver um
estereótipo, mas vai ver uma filha, uma mãe, um irmão. A parte negativa se
desconecta.”
E finalizando com a pergunta obrigatória: questionado sobre ter
escolhido deixar de atuar pra ser músico, Leto diz que não. “Eu não faço um
filme há mais de 5 anos, não tenho um filme lançado há mais de 6 anos. Amo
fazer filmes e não desisti de atuar pra ser músico. A princípio, eu estudei
fotografia na faculdade de artes, e sempre amei filmar. Não importa se é
atuando, dirigindo, ou produzindo, é sempre sobre criatividade pra mim, e sou
muito feliz por poder fazer o que faço para viver.”
http://www.jared-leto.net/gallery/albums/MagazineScan/2013/7HollywoodIssueNov2013/0006.jpg
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